sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

15. A ÉTICA ESTÉTICA DA GESTALT, E A AÇÃO. PERFORMANCE, PERFORMAÇÃO, PERFEIÇÃO, FIGURAÇÃO.

O que o poeta quer dizer
no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.
Ferreira Gullar.
A Não Coisa.


Cinco das características essenciais da vivência gestáltica são:
(1): A de que a Gestalt é a vivência de uma totalidade que é, ante tudo, própria e especificamente, a vivência de uma totalidade; ou seja: anteriormente à vivência das partes, ou elementos que constituem esta totalidade;
(2) Segundo Goethe, a vivência de uma Gestalt expressiva de uma totalidade que se constitu como uma totalidade oriunda ‘do mundo’ é da mesma dimensão desta; antecipando a perspectiva da intencionalidade, da Fenomenologia de Brentano;
(3) A vivência da Gestalt tem naturalmente um caráter pulsativo, um caráter propulsivo, de potência: possível: possibilidade: vontade de possibilidade. De modo que o seu desdobramento é o que entendemos como ação;
(4) Como vivência, a vivência de Gestalt é fenomenológica, e existencial. É pré-reflexiva, pré-comportamental. Intuitiva, no sentido de vivência originária, própria e especificamente pré-reflexiva, e pré-comportamental.
(5) Como tal, a vivência de Gestalt é própria e especificamente da ordem da compreensão. Ou seja, é da ordem da Im-plicação, jamais da ordem da ex-plicação. A vivência de Gestalt é, portanto, da ordem da implicação, e é compreensiva – cum-preensiva. É preensão e desdobramento de possibilidade. É própria, e especificamente, ação.


Assim, a vivência de Gestalt é a raiz da ação.
Como tal, a vivência gestáltica é intuitiva, e... gestáltica: ou seja, própria e especificamente, expressa sempre uma totalidade significativa, anteriormente à configuração de suas partes.
A ação envolve, assim, a afirmação da gestalt, que se dá como totalidade que se constitui anteriormente à configuração de suas partes. A ação, portanto, implica na afirmação intuitiva da Gestalt.
A Gestalt é, assim, uma forma que é gestalticamente compreensiva, ao modo de conhecimento da pré-compreensão. É forma que originária e fenomenologicamente se constitui como potência, como possibilidade, como possível; que só se configura, efetivamente figura, com a vivência de sua afirmação, em seu caráter intuitivo, e com a afirmação de seu efetivo desdobramento, nos mínimos detalhes de suas partes, e de seu conjunto.
Assim, a partir de seu caráter de potência, de possível, de possibilidade, de força, a vivência de Gestalt se constitui com o caráter de um projeto, de uma projetação, de uma emergência, no sentido de seu desdobramento, e configuração, figuração, de sua totalização.
Num mesmo sentido, de projeto, de projetação, de emergência, de jorro, que se projeta a partir da força, da potência do possível, da possibilidade, a Gestalt foi referida como disegno – na arte do Renascimento, ou como perspectiva, perspectivação – inclusive no sentido Niezscheano, e, certamente, poderíamos estendê-lo para Outlook, outsight.
Uma postura de afirmação do vivencial – uma postura de afirmação da vida --, se constitui, basicamente, como uma postura estética, poiética – que privilegia a vivência pré-reflexiva, e pré-comportamental --, de afirmação da Gestalt; própria e especificamente, em sua potência, e no caráter projetativo, de disegno, de perspectivação, de outsight. E em seu caráter intuitivo de uma totalidade que se anuncia enquanto totalidade pré-compreensiva, anteriormente à efetiva totalização compreensiva da configuração de suas partes.
Essas são as condições hermenêuticas da postura gestáltica, são as condições hermenêuticas da ação. A que em Gestalt Terapia se referiu como “contato”. As condições da criação, da criatividade, e da superação.