sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

15. A ÉTICA ESTÉTICA DA GESTALT, E A AÇÃO. PERFORMANCE, PERFORMAÇÃO, PERFEIÇÃO, FIGURAÇÃO.

O que o poeta quer dizer
no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.
Ferreira Gullar.
A Não Coisa.


Cinco das características essenciais da vivência gestáltica são:
(1): A de que a Gestalt é a vivência de uma totalidade que é, ante tudo, própria e especificamente, a vivência de uma totalidade; ou seja: anteriormente à vivência das partes, ou elementos que constituem esta totalidade;
(2) Segundo Goethe, a vivência de uma Gestalt expressiva de uma totalidade que se constitu como uma totalidade oriunda ‘do mundo’ é da mesma dimensão desta; antecipando a perspectiva da intencionalidade, da Fenomenologia de Brentano;
(3) A vivência da Gestalt tem naturalmente um caráter pulsativo, um caráter propulsivo, de potência: possível: possibilidade: vontade de possibilidade. De modo que o seu desdobramento é o que entendemos como ação;
(4) Como vivência, a vivência de Gestalt é fenomenológica, e existencial. É pré-reflexiva, pré-comportamental. Intuitiva, no sentido de vivência originária, própria e especificamente pré-reflexiva, e pré-comportamental.
(5) Como tal, a vivência de Gestalt é própria e especificamente da ordem da compreensão. Ou seja, é da ordem da Im-plicação, jamais da ordem da ex-plicação. A vivência de Gestalt é, portanto, da ordem da implicação, e é compreensiva – cum-preensiva. É preensão e desdobramento de possibilidade. É própria, e especificamente, ação.


Assim, a vivência de Gestalt é a raiz da ação.
Como tal, a vivência gestáltica é intuitiva, e... gestáltica: ou seja, própria e especificamente, expressa sempre uma totalidade significativa, anteriormente à configuração de suas partes.
A ação envolve, assim, a afirmação da gestalt, que se dá como totalidade que se constitui anteriormente à configuração de suas partes. A ação, portanto, implica na afirmação intuitiva da Gestalt.
A Gestalt é, assim, uma forma que é gestalticamente compreensiva, ao modo de conhecimento da pré-compreensão. É forma que originária e fenomenologicamente se constitui como potência, como possibilidade, como possível; que só se configura, efetivamente figura, com a vivência de sua afirmação, em seu caráter intuitivo, e com a afirmação de seu efetivo desdobramento, nos mínimos detalhes de suas partes, e de seu conjunto.
Assim, a partir de seu caráter de potência, de possível, de possibilidade, de força, a vivência de Gestalt se constitui com o caráter de um projeto, de uma projetação, de uma emergência, no sentido de seu desdobramento, e configuração, figuração, de sua totalização.
Num mesmo sentido, de projeto, de projetação, de emergência, de jorro, que se projeta a partir da força, da potência do possível, da possibilidade, a Gestalt foi referida como disegno – na arte do Renascimento, ou como perspectiva, perspectivação – inclusive no sentido Niezscheano, e, certamente, poderíamos estendê-lo para Outlook, outsight.
Uma postura de afirmação do vivencial – uma postura de afirmação da vida --, se constitui, basicamente, como uma postura estética, poiética – que privilegia a vivência pré-reflexiva, e pré-comportamental --, de afirmação da Gestalt; própria e especificamente, em sua potência, e no caráter projetativo, de disegno, de perspectivação, de outsight. E em seu caráter intuitivo de uma totalidade que se anuncia enquanto totalidade pré-compreensiva, anteriormente à efetiva totalização compreensiva da configuração de suas partes.
Essas são as condições hermenêuticas da postura gestáltica, são as condições hermenêuticas da ação. A que em Gestalt Terapia se referiu como “contato”. As condições da criação, da criatividade, e da superação.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

8. INTERPRETAÇÃO. EM TERMOS DE COMPREENSÃO, NINGUÉM INTERPRETA NINGUÉM.

Em termos de Gestal’terapia, de psicologia e psicoterapia fenome-nológico existencial, em termos existenciais, em termos de estética, de poiética, de vida à ventura, é fundamental distinguir entre a interpre-tação como im-plicação, e a interpretação como ex-plicação; entre a interpretação como vivência fenomenológica e existencial – estética, intencional, poiética; e a interpretação teorética; entre a interpretação do ator, ação, efetivamente inter-pret-ação, inter-ação; e a interpreta-ção do espectador, espectação, observação, a espectação teorética. Em sua origem, o termo teoria significa a condição do espectador, a obser-vação de um objeto, como a re-flexão sobre os produtos de ação, atuali-zação, objetivação, dos produtos do processo de uma vivência.

Assim, temos:

INTERPRETAÇÃO.........................INTERPRETAÇÃO
COMPREENSIVA...........................EXPLICATIVA
Compreensão..........................................Explicação
Implicação..............................................Explicação
Agente....................................................Espectador
Ação.......................................................Espectação
Vivência fenomenológico
existencial...............................................Reflexão Teórica.
..........................................................Comportamento
Estética...................................................Teorética
Intencional............................................Dicotomia sujeito-objeto
Atualização...............................................Repetição
Apresentação.............................................Re(a)presentação
Eu-Tu.........................................................Eu-Isso
Poiética....................................................Repetitiva improdutiva
Vivência de possibilidade
e desdobramento.
Ação, atualização, Realização...........................Realidade
Performação................................................Inação.
Apresentação..............................................Re(a)presentação
Acontecer.....................................................Acontecido
Modo inútil e
produtivo de ser da Ação.
Estética Poiética..........................................Pragmática improdutiva.
Modo inútil e
produtivo de ser da Ação.
Estética Poiética..........................................Reflexão improdutiva
Modo inútil e
produtivo de ser da Ação.
Estética Poiética..........................................Comportamento improdutivo


A interpretação compreensiva, como vivência, que é, da per-formance da Ação, per-formação, compreensiva – e que, como vivên-cia, se desdobra a partir de uma potência que é pré-compreensiva: e que desdobra-se, em ação meramente compreensiva, e/ou em ação compreensiva e muscular --, contém o sentido originário da interpre-tação.
Inter-pret-ação, no seu sentido compreensivo, indica, inicialmen-te, e, sobretudo, que ela é, própria e especificamente, da esfera do in-ter. Ou seja, que ela é da esfera do “entre”: que a interpretação compreensiva é, própria e especificamente, dialógica.
Estranho que pareça, acho que poderíamos falar de diapretação, em substituto ao termo interpretação compreensiva, sem que perdêsse-mos em sentido da palavra/conceito. Toda a interpretação, compreen-siva, em todo o seu processo, é dialógica.
Ou seja, é do modo de sermos que é da ordem do fenomenológico, do existencial, do vivencial, da compreensão e do compreensivo. E não da ordem da objetividade – nem da subjetividade. A interpretação com-preensiva é do modo de sermos que é da ordem da inutilidade produti-va, poiética. E não da ordem do uso e da utilidade, não da ordem de uma pragmática. Talvez pudéssemos falar de uma pragmática do inútil, de uma pragmática ‘superior’...
Sine qua non, não obstante, é o aspecto dual da dialógica da in-terpretação. Ou seja, o caráter inevitável de dar-se -- não na dicotomi-zação sujeito-objeto, já que a interpretação compreensiva é fenomenológico e existencialmente intencional --, mas de dar-se – como âmbito da dinâmica intencional --, como o movimento da implicação e implicativo, do remetimento recíproco, e altern-ativo, de um eu para um tu.
Não obstante, o caráter de vivência que não é da ordem do uso, nem da utilidade; o caráter de vivência própria e eminentemente desproposital da interpretação compreensiva, da Ação, -- em seu senti-do próprio --, é uma dimensão constituinte, uma dimensão sine qua non do modo de sermos da compreensão, do modo de sermos da inter-pretação compreensiva.

Creio que o pret de inter-pret-ação remete ao aspecto de que a in-terpretação compreensiva se constitui -- na pontualidade da aporia --, a partir de uma potência que se dá pré-compreensivamente, e que se des-dobra na ação, dentro do âmbito específica e propriamente intencional, dialógico, e compreensivo. A interpretação compreensiva, se dá origina-riamente, como intuição pré-compreensiva de uma potência. Uma pre-tação, prét-ação, “preação”.
De modo que, apesar de se constituir da incerteza de uma potên-cia ignota, a interpretação não é meramente aleatória, e relativista no sentido aleatório do termo, mas orienta-se, na aporia, aporética, pela emergência de uma potência dominante, que paulatinamente, à medida de sua ação, se desdobra em forma, formação, poiese, ao nível e modo de sermos da compreensão, como a dinâmica da dialógica, da interação, com um tu radicalmente alteritário.
A potência, o possível, a possibilidade, se desatualiza, na medida em que se atualiza.
Assim, à medida que se desdobra -- na forma, na form-ação, na ação --, a potência perde a sua força como tal, como possibilidade -- no que Heidegger chamou de decaimento. E se investe, e consitiui em for-ma, em coisa. Coisifica-se, e cede a sua força a seu investimento como coisa, como ente, como entidade.Não obstante, na interpretação com-preensiva, se a potência se esvai na coisidade, à medida em que se atu-aliza, em suas origens a potência do possível se constitui como uma pret-ação, pretação. Como ação que ainda não é, mas que está prestes. Como forma que ainda não é. Mas cuja potência, pro-jeto, pode ser in-tuída pré-compreensivamente. Uma vez que está pronta para se desatu-alizar em sua atualização – está pret, prestes... pretação, preação --, enquanto uma potência pré-compreensiva, que se define, que se dá a conhecer e se corporifica na própria ação, form-ação, gestalt, disegno, perspectiva.
O mais peculiar no caso da interpretação compreensiva -- no caso do privilegiamento ético, a partir de uma compreensão ontológica, da interpretação compreensiva (que desde sempre foram próprios aos psi-cólogos humanistas) --, o mais peculiar, no caso da interpretação com-preensiva, é que ninguém pode, nem quer, interpretar ninguém.
A interpretação compreensiva é própria a cada vivente, e pri-vada. Interpretar o outro é uma impossibilidade ao nível da com-preensão. Só ao nível da ex-plicação é possível “interpretar” o outro. Com todas as precariedades e distorções que isto implica. E, efetivamente, o conteúdo da ex-plicação nunca será a perspectica compreensiva da implicação de ser e devir.
Ética, metodologicamente, as abordagens fenomenológico e-xistenciais, também ditas humanistas, sempre tiveram um respeito radical pela alteridade do outro, e pela sua irrecorrível implicação ontológica, na vivência de seu próprio devir. Sempre tiveram um respeito radical pela perspectiva do processo de avaliação organí-mica em que se configura o seu processo de interpretação compre-ensiva e de avaliação. Desde sempre se reconheceu, como característica originária que eu, enquanto psicólogo, enquanto psi-coterapeuta, enquanto ser humano, não posso interpretar nem ava-liar a compreensão do outro, que são em si interpretação e avaliação; nem posso, nem quero, substituir a vivência do devir da avaliação que é o desdobramento vivencial da performance da ação de seu devir.
A ética, e os objetivos metodológicos dos psicóogos humanis-tas, fenomenológico existenciais, dialógicos, sempre foi caracteris-ticamente avessa a esta postura, da de um poder e de uma suposta, e suspeita, competência para interpretar explicativamente o outro, para substituir e se colocar no lugar de seu processo hermeneutico existencial. Para, assim, avaliar o outro, a partir de nossa própria interpretação, explicativa ou compreensiva.
As abordagens fenomenológico existenciais, humanistas, dia-lógicas, sempre primaram por investir-se, ética, estética e metodo-lógicamente, em potencializar o processo de avaliação, organísmica do cliente. Em potencializar o seu processo de interpretação de sua atualidade existencial.
Para isso, uma entrega do terapeuta, do psicólogo, ao seu modo compreensivo, hermenêutico, e experimental de ser, à inte-pretação de si, de sua própria perspectiva, experimentalidade fe-nomenológica e existencial na dialógica da interação inter humana com o cliente.
Modo do interesse, modo de nos desinteressarmos pelo mora-lismo, pelo autoritarismo. D mesma forma que modo de explicitar o modo humano do drible de corpo na realidade, na consciência re-flexiva, no utilitarismo, e no pragmatismo...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

7. EXPERIMENTAÇÃO.

A experimentação é o núcleo da metodológica, da est-ética -- da ética, da Gestal’terapia. Uma relação experimental entre terapeuta, ou profissional, e cliente, permite um privilegiamento do modo de sermos da ação, ação contactante, da atualização. Potencializando a vivência ativa pelo cliente dos elementos de sua atualidade existencial.
É lapidar a frase de Perls no Gestyalt Therapy -- e altamente reve-ladora de sua concepção e metodológica, de sua ética, est-ética: Qual-quer problema humano só pode ser resolvido ‘experimentalmente’...
Talvez nunca seja muito observar que, neste sentido a experimen-tação nada tem a ver com uma concepção científica do termo. Em ter-mos de experimentação fenomenológico existencial gestáltica, Voltamos aos primórdios do sentido do termo, nos quais o experimentação, deri-vado do perire Grego, significava arriscar, tentar... Ou seja, uma certa arte de perigar. O perigo, a perigação, que também derivam do verbo perire (per-ire?)...
No seu sentido científico, a experimentação está ligada à reprodu-ção controlada, frequentemente laboratorial, de uma dada realidade.
A crítica que Perls faz aos psicólogos da Psicologia da Gestalt, a-pesar de adotar alguns de seus princípios, é enormemente reveladora das concepções qualitativamente diversas para um mesmo termo. Reve-la o tanto que Perls, apesar de visceralmente experimental, afastava-se da concepção científica do conceito. Apesar de reconhecer a importância de alguns princípios da Psicologia da Gestalt, e de reconhecer a adoção de alguns deles, Perls criticava a monotonia, a falta de interesse e exci-tação dos experimentos laboratoriais. E dizia algo como, existe interesse apenas pára os pesquisadores...
Porque aí reside uma questão central da experimentação fenome-nológico existencial. Sua potência se constitui eminentemente como ite-resse, como excitação, como ação contactante, poiesis.
Isso revela o quanto Perls estava longe de um sentido científico do conceito de experimentação, e afiliava-se a uma concepção artística, est-ética, compreensiva, existencial, da experimentação. O que nos incita a buscar e compreender esta perspectiva da experimentação.
Não é novo, naturalmente, este sentido existencial da concepção de experimentação. Como mostra a origem da palavra, cuja compreen-são especificamente experimental nunca parece demasiada. Os Orien-tais entendem como uma fonte inexaurível, esta fonte da experimentação.
A experimentação, neste sentido, já era o núcleo da metodológica, da est-ética, ética, do movimento artístico do Expressionismo. E já era, a experimentação, neste sentido, anteriormente, o núcleo da Gaya Sci-enza nietzscheana.
Ciente da potência, da possibilidade, como núcleo ontológico hu-mano, o Epressionismo era consonante com a observação, posterior, de Heidegger, de que a possibilidade é mais importante do que a realida-de. De um modo tal, assim, que era como se o princípio fundamental da ética do Expressionismo fosse: que se exploda a realidade, o princípio de realidade, o positivismo do real... Tal era a compreensão e valorização da possibilidade como característica ontológica humana definidora.
Naquele tempo, em que o totalitarismo vicejava abundante, e pre-parava a sua colheita, no Expressionismo, a potência da vivência de uma “subjetividade” apavorada e desorientada explodia num grito laci-nante... Em gritos lacinantes. Ex-pressões Ex-plicit-ações: da implica-ção de uma potência -- de uma possibilidade, vontade de possibilidade --, que enquanto tal – possibilidade --, não era -- não é --, real; não era, não é --, da ordem da realidade. Mas era clamorosamente verídica, em sua potência, vivenciada. E re-pressionada.
O Expressionismo -- contra a repressão --, esgueirou-se contra o privilégio da realidade, contra o privilégio do princípio de realidade, con-tra o positivismo do real...
Mas não só contra a repressão. O momento dramático serviu à a-firmação do ontológico no humano. Porque, em termos humanos, em qualquer tempo, a possibilidade é mais importante do que a realida-de... A ‘possibilidade’ é a força que impregna o nosso modo originário, e ontológico, de ser... O possível, o potente... Modo fenomenológico, exis-tencial, vivencial, compreensivo, implicativo, de sermos... Cuja potência revela-se especificamente poiética, criativa.
E a ética, a est-ética, da experimentação expressionista -- como a ética de toda experimentação neste sentido, fenomenológico existencial, dialógico, vivencial, fenomenológico existencial hermenêutico --, a ética da experimentação neste sentido, primou por privilegiar este modo fe-nomenológico existencial de sermos, como o modo de sermos da vivên-cia do possível, da vivência da potência da possibilidade; e do seu desdobramento, como ação, interpretação – no seu sentido efetivamente ativo, compreensivo, implicativo (e não ex-plicativo).
De modo que o artista expressionista centrava-se, centra-se, con-centra-se na potência de sua intuição, de sua inspiração, fenomenológi-ca, existencial. Para tal, usou-se a metáfora de uma pantera, que concentra a sua musculatura, até o ponto ótimo para o bote, e bota... Ou a metáfora de uma mola, que é concentrada até o ponto ótimo para a liberação de sua força...
Assim era, e é, concentrada a potência, a possibilidade contingen-te, da inspiração na ética, estética, expressionista... Até que, no ponto ótimo da concentração da potência da possibilidade, ela é liberada na ação da performance poiética da explícit-ação da elaboração artística, ex-pressão.
Performático experimental é, assim, o artista expressionista na e-laboração e explicitação de sua arte. E toda esta performance, que é um per-ire na vivência estética da possibilidade e do seu desdobramento, é que é o núcleo vivencial e ativo da experimentação estética, vivencial, compreensiva, fenomenológico existencial... Certamente podemos dizer que Gestalt’terapia é expressionismo em terapia...

Segundo Fink, Nietzsche definiu a experimentação, quando bus-cou libertar-se do Idealismo, através desta sua gaya ciên-cia. Curiosamente, ele se propôs a ser científico, para ser rigoroso. E foi definindo as características de sua veracidade: ... Pois muito bem! Va-mos lá, experimenta-te. Mas não quero voltar a ouvir falar de nenhuma questão que não autorize a experiência. Tais são os limites da minha ‘ve-racidade.’ A cientificidade nietzscheana constitui-se como o conheci-mento infundido pela vontade de criar, e nunca pelo ‘instinto de verdade’. O conhecimento que é a afirmação da afirmação do vivido. De modo que, muito longe da perspectiva conceitual e explicativa da ciên-cia, a perspectiva da experimentação nietzscheana se constitui especifi-camente como a estética afirmação da vida – vida esta que é já em si afirmação. Criar a verdade, a partir da afirmação. Nunca buscar uma verdade que inexiste como algo para tal.
Em seu livro “Crítica do Conceito de Consciência na Filosofia de Nietzsche”, Marcelo Barbosa observa: (Nietzsche) se impõe a tarefa de libertar a vida dos valores da decadência, de modo a poder criar novas formas de agir, novas possibilidades de vida, e, fundamentalmente, uma nova concepção do que seja pensar.
Pela experimentação, observa ainda Fink, Nietzsche almeja devol-ver à existência a sua independência, a sua indeterminação e, por conse-guinte, o seu caráter de empreendimento audacioso. A experimentação nietzscheana parte, assim, do entendimento da inexistência de um mundo verdadeiro, da inexistência de um mudo real, e se liberta, estéti-camente, como afirmação criativa da vontade de potência, liberta-se no sentido da criação.
Dilthey entende a compreensão, em contraposição com a explica-ção, como o modo próprio de sermos da interpretação. Nesta funda as Ciências Humanas. Para ele, a interpretação se funda no privilegiamen-to da vivência, e na expressão.
Desta forma, quando Perls funda na experimentação fenomenoló-gico existencial a sua metodologia da Gestal’terapia, já se situa no âm-bito de uma tradição filosófica e artística desenvolvida. Tratava-se, sobretudo, de entender, e de privilegiar, o valor do estético, do afirmati-vo da vivência de consciência -- pré-reflexiva, pré-conceitual, pré-teorética, pré-comportamental, pré-pragmática --, na anuência com a característica mais fundamental que a existência segredara a Zaratus-tra: eu sou aquilo que se auto supera indefinidamente...
Anuência com a potência, e com o seu desdobro na ação: a expe-rimentação existencial, que é a condição da grande saúde nietzscheana. Uma saúde que se constitui como super abundância de forças de vida, promovida pela afirmação da vida em sua integridade. Em particular, pela afirmação da finitude e do sofrimento. Afirmação esta que poten-cializa o retorno da força de potência, como uma super abundância de forças de vida. Que, mais uma vez, se dá como saúde ao oferecer-se à experimentação. Grande saúde e experimentação; afirmação, vivência afirmativa, finitude, sofrimento, afirmação, experimentação, grande saúde, experimentação.

6. GESTAL TERAPIA E DIALÓGICA.

Ontologicamente somos dialógicos.
Somos dialógicos porque (1) a dialogicidade é o nosso modo de ser mais característico: o modo de sermos que Buber designou como eu-tu; que se dá como modo de sermos vivencial, compreensivo, fenomeno-lógico, existencial, pré-reflexivo, pré-conceitual, hermenêutico, as-sim como, pré-pragmático, e pré-comporatamental.
E somos dialógicos (2) na medida em que, na momentaneidade desse modo de sermos, eu-tu, dia-lógico, vivenciamos um logos dial. Ou seja, um logos, sentido vivencial, que diferencialmente compartilhamos com a alteridade radical de um tu, como o movimento de mim para ele-e-dele para mim. Movimento que momentaneamente nos implica inextri-cavelmente, envolve e absorve, na dramática da dia-lógica da relação com o diferente, constituindo o âmbito de um inter entre o que com-preendemos como nós mesmo, e a alteridade radical e ativa de um tu. O dialógico, conforme observa Buber, ocorre (a) na esfera de nossa relação com a natureza não humana, (b) na esfera da relação entre humanos, a esfera do inter humano; e (c) na esfera da relação com o sagrado.
Mesmo na relação que seria de mim comigo mesmo -- impossível sujeito, e impossível objeto, no âmbito da dialógica do modo eu-tu de sermos –, a relação é com um tu, com a possibilidade emergente da outridade de mim.
É o modo de sermos da ação, da ação contactante, da superação, da criação. É o modo de sermos, inevitavelmente na relação com o diferen-te, em que não somos reais, não somos realidade, somos possíveis, pos-sibilidade, em atualização, em realização. O modo de sermos em que, vivência de possibilidade e de possibilitação, inter-ação, participamos da criação de nós mesmos, e do mundo que nos diz respeito, do isso, enquanto sujeito e objetos, e que nos dá a possibilidade do modo eu-isso de sermos, e de sua reconstituição.
O Ontológico modo de sermos eu-tu é momentâneo, é qualitativamente mais restrito e resumido, menos freqüente do que o modo eu-isso de sermos. Permanecemos mais no modo eu-isso de sermos. Mas o modo eu-tu, dialógico, ontológico, de sermos é o modo de sermos em que nos nos re-gene-ramos, nos criamos e re-criamos a nós mesmos e ao mundo que nos diz respeito. Esta é a sua peculiaridade em relação ao modo eu-isso de sermos. O modo eu-isso de sermos é ontológico – no sentido de que é dimensão intrínseca do que somos, igualmente. Mas o modo eu-isso de sermos, que comporta o modo reflexivo, teorético, explicativo de sermos; e os modos comportamental e pragmático de sermos, o modo eu-isso de sermos, é o modo de sermos dos fatos, dos feitos, dos aconte-cidos, que fazem-se e são feitos no modo eu-tu, ontológico, de sermos. Privilegiar o modo eu-isso de sermos é privilegiar a dimensão dos fatos, a dimensão dos acontecidos, em detrimento do fazer, do acontecer, que é próprio do modo eu-tu de sermos. Este tipo de privilegiamento dos fatos, do acontecido, do modo eu-isso de sermos, com o prejuízo do mo-do eu-tu de sermos e de suas implicações ontológicas é o que Buber chamou de fatalidade.
Buber igualmente observou que a única coisa que pode ser fatal ao homem é crer na fatalidade... O dogma (da fatalidade) é falso desde o início.
Isto porque, ainda que o modo eu-isso de sermos seja natural e legiti-mamente constituinte de nós próprios, a limitação a ele, e à sua fatali-dade, é própria apenas quando não aquiescemos habitualmente no modo ontológico, eu-tu, de sermos.
A aquiescência na momentaneidade do eu-tu, o modo pré-coisa, pres-ente de sermos, permite a completa reorganização e recriação da di-mensão coisa, do modo eu-isso de sermos, e de ser o mundo. Permite a reorganização e recriação dos fatos, e de sua fatalidade.
Todas as concepções da Fenomenologia de Brentano, da Fenomenologia da Psicologia da Gestalt, da Psicologia Organísmica de Kurt Goldstein, do Perspectivismo nietzscheano, da hermenêutica de Dilthey, ou da hermenêutica existencial de Heidegger, as concepções e metodológica do Expressionismo apontavam, e apontam para este modo ontológico de sermos, como a fonte ontológica de nós próprios.
Os Perls eram muito próximos de Buber, e de suas idéias. Laura Perls foi aluna de Buber durante muito tempo. E a influência de Buber na concepção e concepção da metodológica, da ética, da Gestalt Terapia foi seminal.
Interessados na criatividade, no homem criativo, alternativamente ao homem científico, as concepções de Buber faziam importante parte de toda uma linha de perspectiva que vinha desde os pré-socráticos, pas-sando por Aristóteles, pelos artistas e filósofos do Renascimento, por Nietzsche, por Brentano – Humanistas, na medida em que valorizavam a experiência humana --, e que viriam a desaguar nos Perls, e em Ro-gers, os mais notórios psicólogos humanistas. Interessados da dimen-são humana da potência, da possibilidade, e do devir, da ação.
Há que se dar um desconto no fato de que a Fenomenologia ainda era precariamente conhecida, imensos e agudos conflitos atravessaram os momentos constituintes das concepções e método da GT. Mas, sem dú-vida de que a dialógica, enquanto ontologia, e enquanto metodológica faz parte do DNA da Gestal’terapia. Igualmente sem dúvida que perma-nece como uma possibilidade que ainda está por dar os seus melhores frutos.

5. PERFORMANCE, FORMA E FORMAÇÃO. 'É POUCO A POUCO QUE A NOÇÃO DE FORMA REVELA TUDO QUE ELA IMPLICA'...

A frase do sub título deste micro-ensaio é de Merleau Ponty, do Estrutu-ra do Comportamento Humano, p. 156. Edição Brasileira.
E, de fato, a noção de forma é tão rica, qualitativamente, e peculiar, que não é comum que se entenda as suas raízes, e o que ela implica, a sua imensa riqueza, sendo ela, de um modo freqüente, abandonada prema-turamente.
Nesse caso, naturalmente, abandona-se a valorização da apreensão, compreensão, a riqueza e peculiaridade fenomenológica, e existencial, ativa, vivencial, ontológica, do processo da form-ação da(s) forma(s), performance, performação, ainda que ele seja comum a todos os seres humanos.
Mentes, em particular, mais teoréticas, ou mais pragmáticas, e mais objetivistas têm menos disponibilidade para o tempo próprio deste pro-cesso da for-mação. A performance, o processo da formação, é ontológi-co, é onto-logos, é fenomenológico, é vivencial, dialógico, compreensivo, implicativo, ativo, especificamente... Não é ex-plicativo, não é teorético, não é objetivo – nem subjetivo, nem mesmo inter-subjetivo -- , não é útil. É um processo ativo, o que quer dizer ‘produtivo’, poiético... É ani-mado pela potência do possível, em que o sentido transita no desdo-bramento do per-curso desde o pré-compreensivo ao compreensivo. Configurando-se aí, então, como meramente compreensivo; ou como simultaneamente compreensivo e musculativo – simultaneamente e con-comitantemente envolvendo compreensão e ação muscular, para a qual queremos usar o termo ‘musculação’, neste sentido específico e particu-lar...
Esse per-curso vivencial, compreensivo, fenomenológico, existencial, gestáltico, de atualização da possibilidade, é o que entendemos por a-ção. É um modo estético de sermos – compreensivo --, na medida em que é vivência, sem abstração, da sensibilidade fenomenológica e exis-tencial.
Ao longo do tempo vários termos, no âmbito da civilização ocidental, buscaram apreende-lo. Desde o ato, passando pelo termo perspectiva, disegno, gestalt, performance; e poderíamos até experimentar: outlook, e, porque não, outsight...
Estético, vivência estésica -- ética da estesia, da sensibilidade pré-reflexiva, pré-comportamental, pré-pragmática; este modo de sermos, vivencial, da formação da forma, per-formance, é o modo de sermos da per-feição.
Per-feição não no sentido da adequação a um modelo ideal. Mas Per-feição no sentido de um certo modo (vivencial, fenomenológico, existen-cial, dialógico, ativo) de fazer.
Feição significa especificamente, feitura, fazimento, fazer.
De modo que per-feição é, especificamente, um modo de fazer. O modo vivencial, fenomenológico e existencial, particularmente ativo, de fazer-mos. O modo de fazermos da vivência, compreensiva, da vivência da possibilidade, e do seu desdobramento em ato, ação. E que é a vivência do per-curso de um trânsito, da mera possibilidade intuída pré-compreensivamente, ao compreensivo: a ação. Ação esta que pode ser meramente compreensiva. Ou, compreensiva, e musculativa.
Intencional todo o processo, no sentido da Fenomenologia da tradição de Brentano, é o processo da for-mação, da ação formativa propriamen-te dita.
De modo que, eminentemente compreensivo, compreensão, o processo envolve a figuração vivencial. A emergência da figura, na sua conexão com a dinâmica do fundo da experiência. À medida que a possibilidade se constitui e se desdobra compreensivamente, objetivando-se. Fazendo com que do invisível brotem efeitos visíveis. Coisas, realidades, ges-tos corporais, que se constituem, poiéticamente, estéticamente, perfor-maticamente, como processo de atualização, e esgotamento da possibilidade.
Per-formance da per-feição. Meramente compreensiva, ou compreensiva e musculativa. Mas, incontornavelmente compreensiva, processamento de formação de figura e fundo. Ato. Disegno. Perspectiva, perspectivação. Gestalt, gestaltificação. Performance, performação, perfazimento, perfei-tura. Per-feição.
O im-per-feito é o que é interrompido, e fica encalacrado, no próprio pro-cesso da perfeição, da performance. Somos imperfeitos, também. Mas, quando a imperfeição se constitui habitualmente, as possibilidades não se atualizam, a ação se interrompe igualmente, e impotencializamos pa-ra criarmo-nos, e para criar gratuitamente, a nós próprios e aos mun-dos que nos dizem respeito.

4. A MÁGICA.

Buscamos ser mágicos em Gestal?terapia. Não por causa daquelas ?cu-ras? instantâneas e milagrosas do Perls, não. Mas porque sabemos que nós os seres humanos somos mágicos, encantados. Ainda que, por mo-tivos que talvez um dia encontremos a lógica, vivamos tão frequente-mente alienados, e mesmo interditados neste e deste poder de encantamento, que não só nos é inerente, como constitui a dimensão que nos é mais originária e característica.
Dito assim, que somos mágicos, encantados até parece uma coisa ex-traordinária. Mas, nada. É o que nos é mais essencial. Ocorre que, em essência, somos seres ativos. Além de sermos reflexivos, e comporta-mentais, somos em essência ativos. Isto permite o que, na bela lingua-gem do I Ching, é o nosso poder de fazer com que do invisível brotem efeitos visíveis. Do intangível brotem efeitos tangíveis... É isso o que chamamos de ação.Ocorre que, no mais íntimo, no mais originário de nós; em nosso modo pré-reflexivo de ser, em nosso modo pré-comportamental de ser, em nosso modo pré-pragmático, anteriormente mesmo ao que entendemos com a realidade, realizada, nós somos po-tência, possível, possibilidade, vontade (força) de possibilidade. Quando chegamos aos limites da imobilidade do realizado do nós-mundo, resta-nos sempre a disponibilidade do retorno ao possível, ao potente, à pos-sibilidade, e à ação que fazem com que?do invisível possam brotar efei-tos visíveis?.
Esses efeitos podem se configurar para os outros, à medida que se con-figuram para nós próprios. Mas, o percurso do processo em que eles se constituem, de uma pré-compreensão, até um desdobramento compre-ensivo ? o que entendemos como ação ? é a performance vivencial de um percurso que regularmente engendra a nós próprios e ao mundo que nos diz respeito.
Incontornavelmente compreensiva, e implicativa (não explicativa), a per-formance da ação pode se limitar à reserva do nosso modo compreensi-vo de ser; ou pode, também, ser compreensão-e-muscul-ação (compreensão e ação muscular). Explicitar-se, seja na objetividade me-ramente compreensiva, seja na objetividade compartilhada. Sempre de-vir, sempre vir a ser. Sempre o novo, o inédito, o diferente, o inesperado, o espantoso. Devir vem de vento. O devir é uma ventura. A ventura da vida à ventura. O que, na performance, performação de figura e fundo, devém com a ação é a potência do possível, a potência da possibilidade, da vontade de possibilidade. Que se forma na incerteza. E que, aconte-cimento, deforma o mundo acontecido, numa ?arte de perigar? a que chamamos de experi(g)mentação, e que é fenomenológico existencial empírica.
Nesta arte de perigar, que é a experimentação fenomenológico existenci-al empírica, nesta vida à ventura, a ventura é imprescindível. E a ventu-ra, o vento, é o Estésico. Um vento, ventura que sopra no Mediterrâneo Oriental, e que impulsionava as velas dos navios... Nele inspirados, os Gregos chamaram de ?estésico? o modo de sermos da sensibilidade. É que o modo sensível de sermos, o modo de sermos que é corpo, vivido e sentidos; fenomenológico e existencial, pré-reflexivo, pré-teórico, pré-comportamental, pré-pragmático. É como um vento, como uma ventura. Todo ele impregnado de possibilidade, de potência ? que é apreendida na com(a)preensão. E de ação: este modo de sermos que nos retira da imobilidade das realidade, no exercício da força de seremos possibilida-de. Os momentos em que habitamos este modo de sermos da força, e da ação, estésicos, configuram a est-ética como vivência. Se não prática, porque prag mática do inútil, eminentemente poi-ética: ética da potên-cia produtiva de uma pragmática do inútil. Assim é a Gestal?terapia, assim somos: para além do real, em nosso modo originário de ser, est-éticos, poiéticos, inúteis produtivos.

3. O PARADIGMA DA GESTALT TERAPIA

Perls tentou ir atrás de uma teoria da GT. E levantou muita coisa inte-ressante. A Psicologia da Gestalt, a Psicologia Organísmica de Kurt Goldstein, o Zen, a indiferença criativa, a gratuidade do possível, Buber, os fundamentos do Expressionismo, Karen Horney, o nietzscheano Otto Rank... dentre outros.
Quando chegou nos EUA, querendo escrever o seu livro, o Gestalt The-rapy, trazia a referência do Paul Goodmann, como um grande intelectu-al que poderia ajudá-lo na escrita, já que ele não escrevia bem em Inglês, e, a bem da verdade, não escrevia bem em língua nenhuma.... Paul Goodmann ainda valorizou-se, dizendo que sabia tudo sobre a Fe-nomenologia de Husserl (tsk, tsk, tsk, era procurar chifre em cabeça de cavalo....). Perls, que estava bem perdido nesse sentido da teoria, entu-siasmou-se. Contratou Goodmann, por US$100, ao mês, para ser o es-criba do Gestalt Therapy. Perls trazia a 'caixa preta' do grande desastre que fora o nazismo sobre o refinado e riquíssimo mundo intelectual de Berlin anteriormente a 1930.
Perls tentava atabalhoadamente, e em parte conseguia, abrir a caixa preta. E quem estava lá? O Expressionismo, Nietzsche, Buber, Brenta-no, Psicologia da Gestalt, Fenomenologia, Existencialismo, Expressão corporal, Reich, Otto Rank... Um intelectual de alto nível, e militante, Norte Americano, Goodmann não custou a estranhar as idéias Européi-as e Alemãs, expressionistas e experimentais de Perls. Não demorou a vaticinar, bem norteamericanamente, que tudo que estava na Fenome-nologia e no Existencialismo já tinha sido dito por William James, e pelo seu Pragmatismo. Até o ano passado, os gestal'terapeutas Norte Ameri-canos estavam embarcados nesta errada. E Goodmann começou a dis-cutir as idéias de Perls, a partir desta ótica, e da ótica da Psicanálise. As puxadas para a Psicanálise que estão no Gestalt Terapia são do Good-mann, não do Perls, que era então o ex-Psicanalista. Enquanto, Good-mann, forçava para limpar a GT de toda Fenomenologia, e de todo Existencialismo... Goodmann redigia, e discutia, as idéias de Perls.... Que nunca foi mto bom em teoria, nesse sentido.
O que fazia pouca diferença, pq o importante para a GT era, como é, a excelência na arte dialógica inter humana, empírica, da estética da a-ção, e do devir, da contact-ação...
O Gestalt Therapy é um Frankstein. E é, de fato, a bíblia da GT; com pedaços de vários lugares diferentes, frequentemente apropriados de um modo inconsistente, e mal ajambrados. (E a tradução Brasileira, ainda por cima de tudo, precisa ainda ser muito cuidada). Mas tem par-tes de ouro puro. E Perls conseguiu de alguma forma passar elementos preciosos do paradigma que ele intuiu como Gestalt Terapia. Lacunas enormes, conceituações Inconsistentes, misturadas com preciosidades. (Perls abriu uma vez o livro, depois de publicado. E, entojado, nunca mais quis saber dele... Mas ele é interessante e importante). E, princi-palmente, uma enorme necessidade de interpretação, e desdobramento, desenvolvimento, que é o nosso desafio, e o desafio de nossa vivência metodológica da GT. Mas existe o campo da originalidade, da fertilidade e do interêsse do paradigma. Muito espaço, mas muito, e tempo, para mais originalidade, criação e interpretação. Mas creio que não é o caso de substituirmos o paradigma da GT por outros. Nesse sentido, por e-xemplo, acho que não precisamos de psicanalismos ou lacanismos, ou lacanagens, dos anos setenta.... E nada contra outros referenciais e pa-radigmas, enquanto tais, e inclusive, aprendermos com eles. Mas sabe-mos que misturar alhos com bugalhos, simplesmente, não dá boa sopa. Nesse remetimento experimental à dialógica dos momentos do modo pré-teórico, pré-comportamental, pré-pragmático de sermos temos a fonte de enormes possibilidades, especificamente existenciais, de inter-pretação da GT, de criação, recriação, de complementação, de invenção, ou seja de atualização. E enormes possibilidades de sermos úteis a nos-sos clientes, engajando-nos com eles na dialógica inter-humana sim-ples, e experimental, da hermenêutica do possível. Da hermenêutica do devir, e da ação.