sexta-feira, 14 de agosto de 2009

8. INTERPRETAÇÃO. EM TERMOS DE COMPREENSÃO, NINGUÉM INTERPRETA NINGUÉM.

Em termos de Gestal’terapia, de psicologia e psicoterapia fenome-nológico existencial, em termos existenciais, em termos de estética, de poiética, de vida à ventura, é fundamental distinguir entre a interpre-tação como im-plicação, e a interpretação como ex-plicação; entre a interpretação como vivência fenomenológica e existencial – estética, intencional, poiética; e a interpretação teorética; entre a interpretação do ator, ação, efetivamente inter-pret-ação, inter-ação; e a interpreta-ção do espectador, espectação, observação, a espectação teorética. Em sua origem, o termo teoria significa a condição do espectador, a obser-vação de um objeto, como a re-flexão sobre os produtos de ação, atuali-zação, objetivação, dos produtos do processo de uma vivência.

Assim, temos:

INTERPRETAÇÃO.........................INTERPRETAÇÃO
COMPREENSIVA...........................EXPLICATIVA
Compreensão..........................................Explicação
Implicação..............................................Explicação
Agente....................................................Espectador
Ação.......................................................Espectação
Vivência fenomenológico
existencial...............................................Reflexão Teórica.
..........................................................Comportamento
Estética...................................................Teorética
Intencional............................................Dicotomia sujeito-objeto
Atualização...............................................Repetição
Apresentação.............................................Re(a)presentação
Eu-Tu.........................................................Eu-Isso
Poiética....................................................Repetitiva improdutiva
Vivência de possibilidade
e desdobramento.
Ação, atualização, Realização...........................Realidade
Performação................................................Inação.
Apresentação..............................................Re(a)presentação
Acontecer.....................................................Acontecido
Modo inútil e
produtivo de ser da Ação.
Estética Poiética..........................................Pragmática improdutiva.
Modo inútil e
produtivo de ser da Ação.
Estética Poiética..........................................Reflexão improdutiva
Modo inútil e
produtivo de ser da Ação.
Estética Poiética..........................................Comportamento improdutivo


A interpretação compreensiva, como vivência, que é, da per-formance da Ação, per-formação, compreensiva – e que, como vivên-cia, se desdobra a partir de uma potência que é pré-compreensiva: e que desdobra-se, em ação meramente compreensiva, e/ou em ação compreensiva e muscular --, contém o sentido originário da interpre-tação.
Inter-pret-ação, no seu sentido compreensivo, indica, inicialmen-te, e, sobretudo, que ela é, própria e especificamente, da esfera do in-ter. Ou seja, que ela é da esfera do “entre”: que a interpretação compreensiva é, própria e especificamente, dialógica.
Estranho que pareça, acho que poderíamos falar de diapretação, em substituto ao termo interpretação compreensiva, sem que perdêsse-mos em sentido da palavra/conceito. Toda a interpretação, compreen-siva, em todo o seu processo, é dialógica.
Ou seja, é do modo de sermos que é da ordem do fenomenológico, do existencial, do vivencial, da compreensão e do compreensivo. E não da ordem da objetividade – nem da subjetividade. A interpretação com-preensiva é do modo de sermos que é da ordem da inutilidade produti-va, poiética. E não da ordem do uso e da utilidade, não da ordem de uma pragmática. Talvez pudéssemos falar de uma pragmática do inútil, de uma pragmática ‘superior’...
Sine qua non, não obstante, é o aspecto dual da dialógica da in-terpretação. Ou seja, o caráter inevitável de dar-se -- não na dicotomi-zação sujeito-objeto, já que a interpretação compreensiva é fenomenológico e existencialmente intencional --, mas de dar-se – como âmbito da dinâmica intencional --, como o movimento da implicação e implicativo, do remetimento recíproco, e altern-ativo, de um eu para um tu.
Não obstante, o caráter de vivência que não é da ordem do uso, nem da utilidade; o caráter de vivência própria e eminentemente desproposital da interpretação compreensiva, da Ação, -- em seu senti-do próprio --, é uma dimensão constituinte, uma dimensão sine qua non do modo de sermos da compreensão, do modo de sermos da inter-pretação compreensiva.

Creio que o pret de inter-pret-ação remete ao aspecto de que a in-terpretação compreensiva se constitui -- na pontualidade da aporia --, a partir de uma potência que se dá pré-compreensivamente, e que se des-dobra na ação, dentro do âmbito específica e propriamente intencional, dialógico, e compreensivo. A interpretação compreensiva, se dá origina-riamente, como intuição pré-compreensiva de uma potência. Uma pre-tação, prét-ação, “preação”.
De modo que, apesar de se constituir da incerteza de uma potên-cia ignota, a interpretação não é meramente aleatória, e relativista no sentido aleatório do termo, mas orienta-se, na aporia, aporética, pela emergência de uma potência dominante, que paulatinamente, à medida de sua ação, se desdobra em forma, formação, poiese, ao nível e modo de sermos da compreensão, como a dinâmica da dialógica, da interação, com um tu radicalmente alteritário.
A potência, o possível, a possibilidade, se desatualiza, na medida em que se atualiza.
Assim, à medida que se desdobra -- na forma, na form-ação, na ação --, a potência perde a sua força como tal, como possibilidade -- no que Heidegger chamou de decaimento. E se investe, e consitiui em for-ma, em coisa. Coisifica-se, e cede a sua força a seu investimento como coisa, como ente, como entidade.Não obstante, na interpretação com-preensiva, se a potência se esvai na coisidade, à medida em que se atu-aliza, em suas origens a potência do possível se constitui como uma pret-ação, pretação. Como ação que ainda não é, mas que está prestes. Como forma que ainda não é. Mas cuja potência, pro-jeto, pode ser in-tuída pré-compreensivamente. Uma vez que está pronta para se desatu-alizar em sua atualização – está pret, prestes... pretação, preação --, enquanto uma potência pré-compreensiva, que se define, que se dá a conhecer e se corporifica na própria ação, form-ação, gestalt, disegno, perspectiva.
O mais peculiar no caso da interpretação compreensiva -- no caso do privilegiamento ético, a partir de uma compreensão ontológica, da interpretação compreensiva (que desde sempre foram próprios aos psi-cólogos humanistas) --, o mais peculiar, no caso da interpretação com-preensiva, é que ninguém pode, nem quer, interpretar ninguém.
A interpretação compreensiva é própria a cada vivente, e pri-vada. Interpretar o outro é uma impossibilidade ao nível da com-preensão. Só ao nível da ex-plicação é possível “interpretar” o outro. Com todas as precariedades e distorções que isto implica. E, efetivamente, o conteúdo da ex-plicação nunca será a perspectica compreensiva da implicação de ser e devir.
Ética, metodologicamente, as abordagens fenomenológico e-xistenciais, também ditas humanistas, sempre tiveram um respeito radical pela alteridade do outro, e pela sua irrecorrível implicação ontológica, na vivência de seu próprio devir. Sempre tiveram um respeito radical pela perspectiva do processo de avaliação organí-mica em que se configura o seu processo de interpretação compre-ensiva e de avaliação. Desde sempre se reconheceu, como característica originária que eu, enquanto psicólogo, enquanto psi-coterapeuta, enquanto ser humano, não posso interpretar nem ava-liar a compreensão do outro, que são em si interpretação e avaliação; nem posso, nem quero, substituir a vivência do devir da avaliação que é o desdobramento vivencial da performance da ação de seu devir.
A ética, e os objetivos metodológicos dos psicóogos humanis-tas, fenomenológico existenciais, dialógicos, sempre foi caracteris-ticamente avessa a esta postura, da de um poder e de uma suposta, e suspeita, competência para interpretar explicativamente o outro, para substituir e se colocar no lugar de seu processo hermeneutico existencial. Para, assim, avaliar o outro, a partir de nossa própria interpretação, explicativa ou compreensiva.
As abordagens fenomenológico existenciais, humanistas, dia-lógicas, sempre primaram por investir-se, ética, estética e metodo-lógicamente, em potencializar o processo de avaliação, organísmica do cliente. Em potencializar o seu processo de interpretação de sua atualidade existencial.
Para isso, uma entrega do terapeuta, do psicólogo, ao seu modo compreensivo, hermenêutico, e experimental de ser, à inte-pretação de si, de sua própria perspectiva, experimentalidade fe-nomenológica e existencial na dialógica da interação inter humana com o cliente.
Modo do interesse, modo de nos desinteressarmos pelo mora-lismo, pelo autoritarismo. D mesma forma que modo de explicitar o modo humano do drible de corpo na realidade, na consciência re-flexiva, no utilitarismo, e no pragmatismo...