quarta-feira, 12 de agosto de 2009

3. O PARADIGMA DA GESTALT TERAPIA

Perls tentou ir atrás de uma teoria da GT. E levantou muita coisa inte-ressante. A Psicologia da Gestalt, a Psicologia Organísmica de Kurt Goldstein, o Zen, a indiferença criativa, a gratuidade do possível, Buber, os fundamentos do Expressionismo, Karen Horney, o nietzscheano Otto Rank... dentre outros.
Quando chegou nos EUA, querendo escrever o seu livro, o Gestalt The-rapy, trazia a referência do Paul Goodmann, como um grande intelectu-al que poderia ajudá-lo na escrita, já que ele não escrevia bem em Inglês, e, a bem da verdade, não escrevia bem em língua nenhuma.... Paul Goodmann ainda valorizou-se, dizendo que sabia tudo sobre a Fe-nomenologia de Husserl (tsk, tsk, tsk, era procurar chifre em cabeça de cavalo....). Perls, que estava bem perdido nesse sentido da teoria, entu-siasmou-se. Contratou Goodmann, por US$100, ao mês, para ser o es-criba do Gestalt Therapy. Perls trazia a 'caixa preta' do grande desastre que fora o nazismo sobre o refinado e riquíssimo mundo intelectual de Berlin anteriormente a 1930.
Perls tentava atabalhoadamente, e em parte conseguia, abrir a caixa preta. E quem estava lá? O Expressionismo, Nietzsche, Buber, Brenta-no, Psicologia da Gestalt, Fenomenologia, Existencialismo, Expressão corporal, Reich, Otto Rank... Um intelectual de alto nível, e militante, Norte Americano, Goodmann não custou a estranhar as idéias Européi-as e Alemãs, expressionistas e experimentais de Perls. Não demorou a vaticinar, bem norteamericanamente, que tudo que estava na Fenome-nologia e no Existencialismo já tinha sido dito por William James, e pelo seu Pragmatismo. Até o ano passado, os gestal'terapeutas Norte Ameri-canos estavam embarcados nesta errada. E Goodmann começou a dis-cutir as idéias de Perls, a partir desta ótica, e da ótica da Psicanálise. As puxadas para a Psicanálise que estão no Gestalt Terapia são do Good-mann, não do Perls, que era então o ex-Psicanalista. Enquanto, Good-mann, forçava para limpar a GT de toda Fenomenologia, e de todo Existencialismo... Goodmann redigia, e discutia, as idéias de Perls.... Que nunca foi mto bom em teoria, nesse sentido.
O que fazia pouca diferença, pq o importante para a GT era, como é, a excelência na arte dialógica inter humana, empírica, da estética da a-ção, e do devir, da contact-ação...
O Gestalt Therapy é um Frankstein. E é, de fato, a bíblia da GT; com pedaços de vários lugares diferentes, frequentemente apropriados de um modo inconsistente, e mal ajambrados. (E a tradução Brasileira, ainda por cima de tudo, precisa ainda ser muito cuidada). Mas tem par-tes de ouro puro. E Perls conseguiu de alguma forma passar elementos preciosos do paradigma que ele intuiu como Gestalt Terapia. Lacunas enormes, conceituações Inconsistentes, misturadas com preciosidades. (Perls abriu uma vez o livro, depois de publicado. E, entojado, nunca mais quis saber dele... Mas ele é interessante e importante). E, princi-palmente, uma enorme necessidade de interpretação, e desdobramento, desenvolvimento, que é o nosso desafio, e o desafio de nossa vivência metodológica da GT. Mas existe o campo da originalidade, da fertilidade e do interêsse do paradigma. Muito espaço, mas muito, e tempo, para mais originalidade, criação e interpretação. Mas creio que não é o caso de substituirmos o paradigma da GT por outros. Nesse sentido, por e-xemplo, acho que não precisamos de psicanalismos ou lacanismos, ou lacanagens, dos anos setenta.... E nada contra outros referenciais e pa-radigmas, enquanto tais, e inclusive, aprendermos com eles. Mas sabe-mos que misturar alhos com bugalhos, simplesmente, não dá boa sopa. Nesse remetimento experimental à dialógica dos momentos do modo pré-teórico, pré-comportamental, pré-pragmático de sermos temos a fonte de enormes possibilidades, especificamente existenciais, de inter-pretação da GT, de criação, recriação, de complementação, de invenção, ou seja de atualização. E enormes possibilidades de sermos úteis a nos-sos clientes, engajando-nos com eles na dialógica inter-humana sim-ples, e experimental, da hermenêutica do possível. Da hermenêutica do devir, e da ação.