quarta-feira, 12 de agosto de 2009

5. PERFORMANCE, FORMA E FORMAÇÃO. 'É POUCO A POUCO QUE A NOÇÃO DE FORMA REVELA TUDO QUE ELA IMPLICA'...

A frase do sub título deste micro-ensaio é de Merleau Ponty, do Estrutu-ra do Comportamento Humano, p. 156. Edição Brasileira.
E, de fato, a noção de forma é tão rica, qualitativamente, e peculiar, que não é comum que se entenda as suas raízes, e o que ela implica, a sua imensa riqueza, sendo ela, de um modo freqüente, abandonada prema-turamente.
Nesse caso, naturalmente, abandona-se a valorização da apreensão, compreensão, a riqueza e peculiaridade fenomenológica, e existencial, ativa, vivencial, ontológica, do processo da form-ação da(s) forma(s), performance, performação, ainda que ele seja comum a todos os seres humanos.
Mentes, em particular, mais teoréticas, ou mais pragmáticas, e mais objetivistas têm menos disponibilidade para o tempo próprio deste pro-cesso da for-mação. A performance, o processo da formação, é ontológi-co, é onto-logos, é fenomenológico, é vivencial, dialógico, compreensivo, implicativo, ativo, especificamente... Não é ex-plicativo, não é teorético, não é objetivo – nem subjetivo, nem mesmo inter-subjetivo -- , não é útil. É um processo ativo, o que quer dizer ‘produtivo’, poiético... É ani-mado pela potência do possível, em que o sentido transita no desdo-bramento do per-curso desde o pré-compreensivo ao compreensivo. Configurando-se aí, então, como meramente compreensivo; ou como simultaneamente compreensivo e musculativo – simultaneamente e con-comitantemente envolvendo compreensão e ação muscular, para a qual queremos usar o termo ‘musculação’, neste sentido específico e particu-lar...
Esse per-curso vivencial, compreensivo, fenomenológico, existencial, gestáltico, de atualização da possibilidade, é o que entendemos por a-ção. É um modo estético de sermos – compreensivo --, na medida em que é vivência, sem abstração, da sensibilidade fenomenológica e exis-tencial.
Ao longo do tempo vários termos, no âmbito da civilização ocidental, buscaram apreende-lo. Desde o ato, passando pelo termo perspectiva, disegno, gestalt, performance; e poderíamos até experimentar: outlook, e, porque não, outsight...
Estético, vivência estésica -- ética da estesia, da sensibilidade pré-reflexiva, pré-comportamental, pré-pragmática; este modo de sermos, vivencial, da formação da forma, per-formance, é o modo de sermos da per-feição.
Per-feição não no sentido da adequação a um modelo ideal. Mas Per-feição no sentido de um certo modo (vivencial, fenomenológico, existen-cial, dialógico, ativo) de fazer.
Feição significa especificamente, feitura, fazimento, fazer.
De modo que per-feição é, especificamente, um modo de fazer. O modo vivencial, fenomenológico e existencial, particularmente ativo, de fazer-mos. O modo de fazermos da vivência, compreensiva, da vivência da possibilidade, e do seu desdobramento em ato, ação. E que é a vivência do per-curso de um trânsito, da mera possibilidade intuída pré-compreensivamente, ao compreensivo: a ação. Ação esta que pode ser meramente compreensiva. Ou, compreensiva, e musculativa.
Intencional todo o processo, no sentido da Fenomenologia da tradição de Brentano, é o processo da for-mação, da ação formativa propriamen-te dita.
De modo que, eminentemente compreensivo, compreensão, o processo envolve a figuração vivencial. A emergência da figura, na sua conexão com a dinâmica do fundo da experiência. À medida que a possibilidade se constitui e se desdobra compreensivamente, objetivando-se. Fazendo com que do invisível brotem efeitos visíveis. Coisas, realidades, ges-tos corporais, que se constituem, poiéticamente, estéticamente, perfor-maticamente, como processo de atualização, e esgotamento da possibilidade.
Per-formance da per-feição. Meramente compreensiva, ou compreensiva e musculativa. Mas, incontornavelmente compreensiva, processamento de formação de figura e fundo. Ato. Disegno. Perspectiva, perspectivação. Gestalt, gestaltificação. Performance, performação, perfazimento, perfei-tura. Per-feição.
O im-per-feito é o que é interrompido, e fica encalacrado, no próprio pro-cesso da perfeição, da performance. Somos imperfeitos, também. Mas, quando a imperfeição se constitui habitualmente, as possibilidades não se atualizam, a ação se interrompe igualmente, e impotencializamos pa-ra criarmo-nos, e para criar gratuitamente, a nós próprios e aos mun-dos que nos dizem respeito.